Karina Araújo Campos, Belo Horizonte, 14 de maio de 2010.
No quarto, um ar fresco rompia as barreiras do fogo da noite. Levantou-se, olhando o corpo dela enrolado nos lençóis. Saiu do quarto fechando a porta lentamente.
Na cozinha, lavou morangos, peras e uvas. Partiu a papaia. Ferveu água para café, preparou a travessa com pães e biscoitos e arrancou flores das violetas. Pegou as xícaras com receio de quebrá-las, fez suco de caju, colocou os copos na bandeja. Ajeitou tudo na sua plena perfeição máscula e levou o café da manhã completo nas mãos.
Firmou o cotovelo na maçaneta da porta e a empurrou sorrateiramente. Mas, uma uva, traindo-lhe, saltou ao chão estourando-se na madeira do piso. E ela, vislumbrando mais que surpreendida, aquele gesto matutino, sentou-se na cama, aguardando as guloseimas. Sugou-lhe o mel dos lábios primeiramente. Depois degustou as frutas, os lábios, os pães, os lábios e os lábios, esperando que todos os dias fossem como aquela manhã.
Mini-conto "Café da Manhã", Revista Pragmatha edição maio de 2010.